quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Resumo do filme “O amor é contagioso" - por Vera Maria Rosa/ Ana Patrícia da Silva (Not).



                                Como disse Dante:“ Na metade da vida, me achei numa selva densa, tomei o caminho errado.”(trecho do filme “O amor é contagioso”
Hunter Adams  estava meio perdido e ao voltar para casa, a qual ele se referiu com “lar”, definiu este momento como estar no meio de uma tempestade, talves fosse pelo fato de lhe trazer lembranças anteriormente “guardadas” em sua memória as quais poderiam ser boas, como também ruins.
Quando criança, especificamente aos 9 anos, perdeu seu pai na guerra e se culpava por sua morte. Talvez por este motivo, agora na fase adulta, não conseguia se “encaixar” nos locais de trabalho e trocava constantemente de moradia. Em um certo momento, após tentar suicídio, procurou por conta própria, tratamento em um hospital psiquiátrico. Ao tentar ajudar seu colega de quarto em um momento de crise, descobriu que poderia mudar sua vida ajudando outras pessoas, importando-se menos com seus problemas e focando em ajudar o próximo, ouvindo suas queixas, medos e dificuldades.
Dois anos após sair do hospital psiquiátrico, se ingressou na faculdade de medicina, Patch Adams (como passou a ser chamado), mesmo sendo um estudante,  já enxergava o paciente como um ser biopsicosocial e espiritual.
Um exemplo de envolvimento, carinho e levar a alegria para os lugares mais tristes,  mostrando sua vontade de ajudar e se envolver com os pacientes, “ roubando” várias gargalhadas e despertando a alegria em cada enfermaria que passava no hospital e até imitava os comportamentos anormais de alguns pacientes que se encontravam na ala de psiquiatria, no intuito de torná-los “ humanos”, porque os profissionais do hospital escola eram desumanos, frios, nem sequer pelo nome os pacientes eram chamados, mas nomeados pelo número do leito que ocupavam. Seu principal objetivo era humanizar os ambientes hospitalares.
                       “ Nossa função é melhorar a saúde, significa melhorar a qualidade de vida, não só adiar a  morte” (trecho do filme “O amor é contagioso”).
Mesmo antes de se formar, já tinha um enorme desejo e respeito pelo ser doente, não desistia de tentar, por maiores que fossem as barreiras, tentando trazer e oferecer alegria ao paciente desanimado, sem expectativa de melhora.
Mostrou aos seus colegas, que amor, alegria, sorriso nunca é demais ou exagero, pois com este simples gesto ou atitude, se poderia mudar o rumo da patologia, não necessariamente curando-a, mas oferecendo qualidade de vida, para que este momento tão sofrido, possa ser um pouco ofuscado pelo “exagero de felicidade”.
Este é um filme intenso e merece ser apresciado, o qual nos coloca diante da realidade de um futuro não muito distante que nos aguarda. Não podemos nos deixar “engessar” e não se importar com o sofrimento do paciente, pois atitudes como estas é que contribuem para o agravamento do quadro patológico e fazendo com que seu tempo de internação seje mais prolongado. Enfim, devemos nos colocar no lugar do paciente e pensar se seria desta maneira que gostaríamos de ser atendidos.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012


MORTE E SUAS REPRESENTAÇÕES PARA OS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM EM UMA UNIDADE HOSPITALAR


 Giselle Cavalcanti Lopes SANTANA*
RESUMO
A experiência da morte é um tema negado pela maioria das pessoas, seja pelo medo, seja pela falta de compreensão. Neste artigo, buscou-se desenvolver o tema em evidência, esclarecendo-se os aspectos que envolvem a vivência do luto pelos profissionais de enfermagem dentro de uma unidade hospitalar. Objetivando clarificar e melhorar a compreensão dos leitores, e principalmente, que a partir de uma leitura objetiva, estes pudessem agregar novos conhecimentos, quebrar os tabus que envolvem a situação de morte e vivenciá-la de maneira menos traumática.

Embora faça parte do ciclo natural da vida a morte, ainda nos dias atuais, é um tema bastante polêmico, por vezes evitado e por muitos não compreendido, gerando medo e ansiedade nas pessoas. A enfermagem tem em seus ideais o compromisso com a vida. Não obstante ao que tudo isso venha a significar, tem a responsabilidade de assistir a clientela em todo o seu ciclo vital, contemplando-a holisticamente. Na medida em que se busca a melhoria das condições de saúde e o aprimoramento técnico científico da assistência de enfermagem, refletir sobre questões como a morte, bem como seus reflexos sobre as pessoas com ela envolvidas, torna-se uma necessidade. Mediante essa importância e a complexidade do tema em evidência, buscou-se demonstrar através do discurso literário a sua aplicabilidade e implicações para o profissional da saúde referente aos fatores psíquicos que surgem em situações hospitalares.
Levando-se em consideração que a situação de morte ainda desperta receios e negação no homem e que o fascínio, temor e aversão são algumas das emoções que a morte provoca no ser humano. Percebe-se que cada vez mais, as pessoas têm dificuldade em falar e vivenciar a morte, os rituais de luto estão sendo segregados às CTI’s de hospitais, organizadas de forma a tornar o contato com o morto (e a morte) o mais indolor possível.
A sociedade de consumo tenta dar à morte – ampliando o tabu que a envolve – uma nova embalagem mais acética e aceitável, procurando contornar seu impacto, amenizar seu significado, reduzir os transtornos que possa acarretar. Mas a morte e o ritual do luto que a ela se segue estão permanentemente presentes em nosso cotidiano, pois vida e morte não podem ser separadas.
Uma das primeiras psicólogas a tratar da questão do luto no Brasil e atualmente coordenadora do Laboratório de Estudos e Intervenções Sobre o Luto da PUC/ SP e membro do Instituto Quatro Estações – Instituto de Psicologia, Maria Helena Franco Bromberg afirma, em um artigo referente ao tema, que: “Tudo o que vivemos cabe em um determinado tempo e com a morte acaba-se a possibilidade de continuarmos a existir, ao menos nessa forma que conhecemos. O homem moderno, voltado para a produção e para o consumo, valoriza o fazer e o ter mais do que o ser. E a morte elimina isso” (2004).
O avanço da ciência e o tecnicismo fizeram com que crescesse no mundo contemporâneo uma cultura de negação da morte: observando a história, percebemos que esse tabu foi se constituindo no decorrer dos últimos oito séculos e, mais aceleradamente, a partir do Renascimento e da Revolução Industrial. A morte como solenidade pública e coletiva vai se transformando na morte de alguém fechado e isolado na CTI de um hospital, “deixando” de ser responsabilidade social e passando esta às mãos do profissional de enfermagem, que muitas vezes é mal interpretado em suas ações e ainda tem que manter-se neutro diante da iminência da morte, o que acarreta em grande acúmulo de tensões e posterior danos emocionais e psicológicos para o mesmo.
Esse processo de negação da morte deixa, evidentemente, seqüelas graves na psique do chamado “homem moderno”, incluindo aí o profissional de enfermagem. Seus sintomas manifestam-se de diferentes maneiras, indo da simples negação até o pavor extremo que causa depressões, as chamadas síndromes de pânico e outros tipos de disfunções: “Um dos temores mais fortes no ser humano é o da morte, que pode ser multifacetado. Pode-se ter medo do processo de morrer, do que vem depois, do que vai acontecer com o corpo; ou ainda de morrer cedo demais, de não ter dado assistência às pessoas que precisam etc. Enfim, pode ser multidimensional. Isso pode estar muito ligado ao que chamamos corriqueiramente de síndrome de pânico. A pessoa sente essa falta de controle e vulnerabilidade”, relaciona Maria Julia Kovács (1992), coordenadora do Laboratório de Estudos Sobre a Morte do IPUSP. A referida autora completa:
Ainda citando a referida autora, toda perda grave gera um luto: A perda é uma das situações mais traumáticas da vida de um ser humano. O luto é a perda de pessoas próximas ou de situações que têm uma relação de vínculo conosco; há uma grande carga energética vinculada. É um processo de elaboração para que essa ferida sare. É muito importante a pessoa realizar que de fato a perda ocorreu.
O processo de “elaboração de um luto” segue um roteiro de fases: entorpecimento (período onde a pessoa ainda não realizou o fato); anseio e procura; desorganização; início da percepção; reorganização. “Essa divisão tradicional ajudou a entender o luto, mas atualmente se busca observar mais os ‘padrões’ de comportamento, com um enfoque no profissional, do que referências cronológicas. Trabalhamos muito mais com uma construção de significados para determinada morte, para a sua vida antes e depois daquela morte/ perda”, analisa Maria Helena Franco Bromberg (apud KOVÀKS, 1992).
As conseqüências de um luto mal elaborado manifestam-se de diversas formas. “O que mais chama a atenção não é o sentimento em si, mas a sua duração e a intensidade. É natural que as pessoas se sintam tristes ou até tenham um quadro de depressão, mas por um determinado tempo. Quando isso fica perene, então há um sinal de que a coisa não anda bem e que se tem um quadro patológico. Freud levantou a tese de que certas pessoas têm uma disposição de ‘ânimo patológico’. Dessa forma, uma situação de luto pode se tornar complicada”, comenta Maria Julia Kovács (1992). Algumas circunstâncias podem tornar mais traumático o processo de luto em casos de morte. A morte de pacientes são, para os enfermeiros e técnicos, circunstâncias que fazem supor uma possibilidade de complicação na vivência do luto.
A aversão à morte é reafirmada na mesma medida em que a ciência avança, como se sua principal meta fosse vencê-la. “Atualmente a morte é vista como evento interdito, um erro e um fracasso. Isso tem a ver com o desenvolvimento da medicina”, comenta Maria Julia Kovács(1992). Para RODRIGUES (apud, KOVÀKS,1992), “essa é uma característica de nossa sociedade que atinge também a morte. A resolução dos problemas, a descoberta da felicidade, o prolongamento da vida, a eterna juventude, a cura das doenças – tudo é incumbência da ciência. Pois durante a Idade Média, morrer era uma coisa muito comum e isso, de certa forma, banalizava a morte. Atualmente, a questão fundamental é a valorização da vida biológica. Porém, uma valorização individual, em detrimento da valorização da vida coletiva”. Consoante isso, percebe-se que o profissional que em sua formação foi direcionado a procedimentos que prolongassem a vida do paciente, e principalmente, fizesse uso da tecnologia ao seu favor, acaba sentindo-se impotente na situação da morte, chegando muitas vezes a negá-la.
A MORTE E O SEU CONTEXTO

Na Barsa (1999), encontramos, que a única certeza da vida é a morte. Na morte, manifesta-se o problema do desaparecimento do corpo físico do indivíduo e também de sua própria vida social. É o ser humano confrontando-se com a sua finitude. Percebe-se que aceitar e compreender a morte não são tarefas fáceis, principalmente quando seu trabalho é entendido como aquele que proporciona a vida, como é o caso dos profissionais de saúde.
Morte, do ponto de vista físico, é o que ocorre quando cessa a vida de um indivíduo, seja por causas naturais (senilidade), seja por motivos acidentais ou causas externas (doenças). A morte é um fato considerado cheio de mistérios, e é daí que vem o estímulo para estudá-la, para refletir como as pessoas a vêem e a aceitam. Segundo Scott (1993), à medida que as pessoas lutam com o mistério da sua morte e principalmente de seus pacientes, descobrem o significado da sua vida.
O medo da morte, segundo Scott (1993), está ligado ao narcisismo. Nada ameaça mais nosso apego narcisista a nós mesmos e a nossa auto-imagem do que a consciência da nossa destruição. Portanto, é perfeitamente natural que tenhamos medo da morte. Quanto mais deixamos a morte de lado, mais ela se aproxima. Quanto mais nos dedicarmos a diminuir nosso narcisismo, mais descobrimos que não só teremos menos medo de morrer como também teremos menos medo de viver.
Ver um paciente morrer de dor esgota os enfermeiros, mesmo aqueles que não estão participando do processo de atendimento. O apego à esperança e à fé é muito grande neste período.
Dentro de uma unidade hospitalar devemos levar em consideração a necessidade do profissional trabalhar seus sentimentos, já que eles são inerentes a qualquer ser humano. Somos seres racionais e dotados de subjetividade e, em diversas situações, o aspecto emocional prevalece ao racional. Entendemos que não há como negar nossos sentimentos nos momentos de intervenção profissional, precisamos “administrar” os sentimentos e emoções, por mais difícil que isto seja. Exemplificando, ficarmos emocionados muitas vezes perante situações presenciadas nas visitas parentais diárias aos pacientes internados. Externar nossas emoções, chorar ou indignarmo-nos só será possível em um momento posterior, distante da família e do paciente, uma vez que diante deste temos que assumir uma postura diferenciada.
Observa-se que há uma troca de experiências, há uma situação de aprendizagem constante nesta relação paciente – família – profissional, pois se percebe que cada sujeito neste contexto tem algo a contribuir para o crescimento do outro.
Assim, vê-se um círculo de ações imposto ao psicólogo hospitalar, pois para trabalhar com a morte, ele primeiramente deve trabalhar consigo a questão. Seria insuportável para o profissional que não aceita a morte, chegar à beira de um leito e presenciar a de um paciente. É algo muito complexo para todos nós, lidarmos com o fim de uma existência física, de alguém que construiu uma vida, que fez parte de uma história ou alguém ao qual tinham planos futuros de sua existência. Mesmo dispondo de todos os recursos necessários, seja físico, emocional ou psicológico, o que fica a este paciente é apenas um destino sem volta – a morte.
LIDANDO COM A MORTE
A missão tradicional do enfermeiro é aliviar o sofrimento humano; se puder curar, cura; se não puder curar, alivia; se não puder aliviar, consola. Os pensamentos ou sentimentos desencadeados nos enfermeiros, na presença da morte de um paciente, variam muito entre as diferentes pessoas, também variam muito entre diferentes momentos de uma mesma pessoa. Podem ser sentimentos confusos e dolorosos, serenos e plácidos, raivosos e rancorosos, racionais e lógicos, e assim por diante.
Enfim, são sentimentos das mais variadas tonalidades. Isso tudo pode significar que a morte, em si, pode representar algo totalmente diferente entre as diferentes pessoas, e totalmente diferente em diferentes épocas da vida de uma mesma pessoa.
De um modo geral, descontando as defesas das reflexões zen, das meditações transcendentais e de toda sorte de subterfúgios do medo e do temor do nada, a idéia da morte nos remete aos sentimentos de perda, portanto, em tese, nos desperta sentimentos dolorosos. Trata-se de uma espécie de dor psíquica, a qual muitas vezes acaba também gerando dores físicas, ou criando uma dinâmica incompreensível para quem à vida continua sorrindo.
A partir do que foi pesquisado, o tema morte está mais presente, seja o medo dela, seja à vontade de que ela aconteça casualmente ou, mais grave, sob a forma de ideação suicida. De qualquer forma, pensa-se na morte e, como não poderia deixar de ser, acompanha sentimentos dolorosos. Essa é uma dor psíquica, naturalmente movida por sentimentos de tristeza, de finitude, de medo, de abandono, de fragilidade e insegurança.
Na espécie humana a dor psíquica diante da morte pode ser considerada fisiológica, mas sua duração, intensidade e resolução vão depender, muito provavelmente, de como a pessoa experimentou a vida. Durante a fase de enfrentamento da morte, o enfermeiro é estimulado a profundas reflexões sobre a própria vida, se lhe foi satisfatória sua trajetória de vida, se houve algum desenvolvimento emocional, se pode criar vínculos afetivos fortes e permanentes, se ele pode auxiliar a outros seres humanos. Orientado psicologicamente poderá ser possível que, apesar de doloroso, esse momento possa ter um importante e saudável balanço emocional.
OS 5 ESTÁGIOS DA DOR DA MORTE
Ao tentar banir a morte do cenário da vida, ela opera um processo de medo e angústia. A reação psíquica determinada pela experiência com a morte foi descrita por Elisabeth Kubler-Ross como tendo cinco estágios:
Primeiro Estágio: Negação e Isolamento
A Negação e o Isolamento são mecanismos de defesas temporários do Ego contra a dor psíquica diante da morte. A intensidade e duração desses mecanismos de defesa dependem de como a própria pessoa que sofre e as outras pessoas ao seu redor são capazes de lidar com essa dor. Em geral, a Negação e o Isolamento não persistem por muito tempo.
Segundo Estágio: Raiva
Por causa da raiva, que surge devido à impossibilidade do Ego manter a Negação e o Isolamento, os relacionamentos se tornam problemáticos e todo o ambiente é hostilizado pela revolta de quem sabe que vai morrer. Junto com a raiva, também surgem sentimentos de revolta, inveja e ressentimento.
Nessa fase, a dor psíquica do enfrentamento da morte se manifesta por atitudes agressivas e de revolta; – porque comigo? A revolta pode assumir proporções quase paranóides; “com tanta gente ruim pra morrer porque eu, eu que sempre fiz o bem, sempre trabalhei e fui honesto”…
Transformar a dor psíquica em agressão é, mais ou menos, o que acontece em crianças com depressão. É importante, nesse estágio, haver compreensão dos demais sobre a angústia transformada em raiva na pessoa que sente interrompidas suas atividades de vida pela doença ou pela morte.
Terceiro Estágio: Barganha
Havendo deixado de lado a Negação e o Isolamento, “percebendo” que a raiva também não resolveu, a pessoa entra no terceiro estágio; a barganha. A maioria dessas barganhas é feita com Deus e, normalmente, mantidas em segredo.
Como dificilmente a pessoa tem alguma coisa a oferecer a Deus, além de sua vida, e como Este parece estar tomando-a, quer a pessoa queira ou não, as barganhas assumem mais as características de súplicas.
A pessoa implora que Deus aceite sua “oferta” em troca da vida, como por exemplo, sua promessa de uma vida dedicada à igreja, aos pobres, à caridade … Na realidade, a barganha é uma tentativa de adiamento. Nessa fase o paciente se mantém sereno, reflexivo e dócil (não se pode barganhar com Deus, ao mesmo tempo em que se hostiliza pessoas).
Quarto Estágio: Depressão
A Depressão aparece quando o paciente toma consciência de sua debilidade física, quando já não consegue negar suas condições de doente, quando as perspectivas da morte são claramente sentidas. Evidentemente, trata-se de uma atitude evolutiva; negar não adiantou, agredir e se revoltar também não, fazer barganhas não resolveu. Surge então um sentimento de grande perda. É o sofrimento e a dor psíquica de quem percebe a realidade nua e crua, como ela é realmente, é a consciência plena de que nascemos e morremos sozinhos. Aqui a depressão assume um quadro clínico mais típico e característico; desânimo, desinteresse, apatia, tristeza, choro, etc.
Quinto Estágio: Aceitação
Nesse estágio o paciente já não experimenta o desespero e nem nega sua realidade. Esse é um momento de repouso e serenidade antes da longa viagem. É claro que interessa, à psiquiatria e à medicina melhorar a qualidade da morte (como sempre tentou fazer em relação à qualidade da vida), que o paciente alcance esse estágio de aceitação em paz, com dignidade e bem estar emocional. Assim ocorrendo, o processo até a morte pôde ser experimentado em clima de serenidade por parte do paciente e, pelo lado dos que ficam, de conforto, compreensão e colaboração para com o paciente.
Ao tentar banir a morte do cenário da vida, ela opera um processo de medo e angústia. Elisabeth Kubler Ross (1977), uma psiquiatra suíço-americana, aborda em seus estudos sobre a morte nos hospitais, os cinco estágios que as pessoas atravessam com relação à morte, e que ocorrem na seguinte ordem: negação – há a negação da morte; raiva – quando se percebe que não há mais como negar a condição; barganha – revolta e outros sentimentos na expectativa de que se possa reverter; depressão – quando começa a ver realmente a condição e que não há mais o que fazer, apresentando, muitas vezes, remorso do que deixou de fazer, sentindo-se derrotado e impotente; aceitação – fisicamente sente-se mais debilitado, quer ficar só e dormir. Neste último estágio é quando o profissional absorve a idéia da morte.
O perfil e a sensibilidade afetiva de cada um, bem como o conjunto das experiências vividas, tem papel importante na lida com a morte. O fenótipo, que é a somatória dos genes da personalidade com a influência do destino sobre eles, pode tanto potencializar o medo da morte quanto ajudar a conviver melhor com a consciência da finitude.
Psicodinamicamente, o empenho do terapeuta está em desfazer, na medida exata, o culto ao ego que há dentro de cada um de nós. Esse culto ao ego é que faz com que a pessoa acredite e aceite a morte e faz o indivíduo se colocar sempre acima do todo a que pertence.
Ao não conseguir se colocar na intimidade do todo, do comum, do normal, esse ego sofre exagerada e desnecessariamente para aceitar a parte que lhe cabe. Na vida, quanto mais a pessoa pretende se destacar dos demais (independente do mérito ou demérito disso, que não vem ao caso agora), mais ela sofre com a ausência de solidariedade e com o isolamento que a morte impõe, obrigatoriamente. “As pessoas não costumam ser solidárias o suficiente para morrer juntas com as outras” (ROSS, 1977).
A POSTURA DE ATENDIMENTO DO PROFISSIONAL DE SAÚDE
Para ANGERAMI-CAMON (2002), o profissional de saúde assume diferentes posturas diante dos casos de urgência/morte, ou ainda naqueles casos que não configuram emergência. Essas posturas são denominadas como: calosidade profissional, distanciamentos críticos, empatia genuína e profissionalismo afetivo.
Calosidade profissional
É aquela postura onde o profissional da saúde, depois de anos de prática com o doente e a doença, adquire uma indiferença total para a dor do paciente, uma calosidade que o impede de ser tocado, ainda que minimamente, pelo sofrimento do paciente. Esse tipo de postura é aquela onde o paciente é tratado pelo profissional da saúde apenas como um simples sintoma num total desprezo pela sua dor.
Distanciamento crítico
É o tipo de postura inerente à prática da psicoterapia, onde se aprende no rol das técnicas psicoterápicas a necessidade de se ter um distanciamento dos problemas trazidos pelos pacientes para que não ocorra mistura entre as questões por ele mostradas e a vida pessoal e afetiva do psicoterapeuta.
O distanciamento crítico permite que o profissional da saúde, a despeito do numero de pacientes que apresentam a dor e o desespero estampados em seu seio de sofrimento, lide com seus aspectos emocionais desses pacientes de maneira lúcida, sem com isso desastabilizar-se emocionalmente. É o distanciamento crítico que permite com que ele, ainda que compreendendo a dor do paciente, mesmo assim, tenha condições de ajudá-lo, sem, com isso, ter que se escorar no próprio escombro de dor do sofrimento.
Empatia genuína
É aquela postura onde o profissional da saúde se envolve com o doente de um modo singelo sem o estabelecimento de qualquer barreira. Essa atitude é aquela que muitas vezes transcende os limites estabelecidos na relação profissional da saúde e do doente. São aqueles casos em que a doença e o doente passam a ocupar totalidade do imaginário emocional do profissional, fazendo com que esse transcenda, inclusive, os limites que possam resguardar sua privacidade pessoal.
A empatia genuína é um sentimento que necessitaria ser resgatado na prática do profissional da saúde na atualidade. Entretanto, por mais que se faça necessário na busca de humanização, é algo que não se ensina academicamente.
Profissionalismo afetivo
É um procedimento onde se adota uma postura profissional, com certo distanciamento, onde se respeita a dor do paciente. É adotado no desenvolvimento de um trabalho sistematizado sem um envolvimento emocional, que escape do controle do profissional.
Profissionalismo afetivo implica na adequação de um conjunto de procedimento onde, ocorre um afloramento da sensibilidade emocional do profissional da saúde diante da reflexão dos procedimentos a serem adotados.
A EQUIPE DE SAÚDE FRENTE ÁS SITUAÇÕES DE CRISE E EMERGÊNCIA NO HOSPITAL: ASPECTOS PSICOLÓGICOS.
Como citado anteriormente, os profissionais da área de saúde também passam pelas mesmas reações e pelo mesmo tipo de solicitação adaptativa, entretanto em condições diferentes às do paciente e da família, com outros tipos de agravantes, como, por exemplo, a intermitência de solicitações críticas, onde ações, decisões e constante pressão estão no cotidiano dessas pessoas causando a elas, um dano biopsicossocial elevado. Eis alguns desses prejuízos: privação de sono; dificuldade de concentração; depressão; aumento da irritabilidade; sentimento de auto-referência com extrema sensibilidade a críticas; déficit na memória de fixação; dependência de analgésicos e tranqüilizantes;
O estímulos emocionais nocivos aos quais o profissional de saúde está intermitentemente exposto dizem respeito: a intensa relação com as questões afetas ao processo de morte e morrer; o cotidiano de trabalho permeado por vivências ligadas à dor, sofrimento, impotência, angústia, medo, desesperança, desamparo e perdas de diversos tipos; extenuante tarefa de se relacionar e tratar de pessoas que se apresentam, poliqueixosas, refratárias à ajuda, agressivas, hostis, autodestrutivas, deprimidas, dependentes e inseguras; a atitude de lidar com a intimidade emocional e corporal do paciente; enfrentar jornadas de trabalho cada vez mais extensas e, não raro múltiplas.
Pode-se afirmar que o estresse e a alienação aos quais são submetidos os profissionais de saúde e, em particular, àqueles que se dedicam a trabalhar em unidades de emergência estão fora de seu controle; impõem-lhe inúmeros prejuízos que, por sua vez, acabam por ser repassados aos pacientes à medida que sua concentração, capacidade de decisão, limiar de irritabilidade, raciocínio, reflexos, sensibilidade encontram-se bastante comprometidos.
Diante deste fato, torna-se necessário buscar soluções que minimizem estes prejuízos com o objetivo de tornar a vida dessas pessoas mais saudáveis possíveis não só para o campo profissional como também para o pessoal. Alguns caminhos podem ser seguidos para se alcançar tal efeito.
Primeiramente, a nível de intervenção, tem-se a necessidade de voltar a sua atenção para si mesmo e, honestamente, fazer um balanço de suas vidas e das relações e interações que criam. Portanto, questões como: a qualidade de vida, o lazer, o sentimento de produtividade e crescimento, o uso do potencial criativo para busca de adaptações saudáveis estruturam esse nível de intervenção.
É preciso considerar também todas as ações que estão sendo tomadas no sentido de ampliar o espectro de informações e sensibilizações do profissional em formação para que as armadilhas conductuais e os modelos estereotipados que são passados a estes possam, gradativamente, ser mudados, humanizando, assim, a formação.
Assim vemos que a vida é o primeiro bem a que todos os seres humanos têm direito. “Todos temos direito a nascer, crescer, envelhecer e morrer” (BEYERS et.al,1995).
A morte de uma forma geral é a única certeza da vida, uma vez que se constitui no ponto crucial de sua existência. De acordo com PRADO (1995), é talvez o caráter irrevogável da morte que a reveste de mistérios, sedução, curiosidade e ansiedade, sendo uma das maiores interrogações da humanidade. Para SOUZA (1982): “a morte está ligada à vida”.
Segundo COSTA (1977), ao longo da história do homem esta questão tem despertado sentimentos diversos e inúmeras reflexões. De forma geral, no percurso de seu estudo e como a mesma tem sido tratada, a ansiedade e o medo gerados por ela levam à negação pela sociedade. MAGALHÃES et al. (1995) afirmam que hoje está mais difícil enfrentar a morte.
Para a enfermagem, vivenciar na prática e atender pacientes graves e em situação de morte iminente é um grande desafio (SANTOS, 1996). Tal fato se explica pelo compromisso que assume com a sociedade, “pois tem em seus ideais a preservação da vida” (FIGUEIREDO et al., 1995).
Para MIRANDA (1996) é provável que esta seja a questão mais difícil e delicada quando se fala da área de saúde, “pois todo o movimento do profissional dessa área é em direção ao bem estar, à saúde, à vida”. E de repente há o defrontamento com, o seu exato avesso – a perda, a finitude, a morte.
Ninguém deixa de pensar a respeito da morte. Por mais que tentemos negá-la ou mesmo evitá-la, a sua existência é um fato e dela ninguém poderá fugir. Ao pensarmos sobre ela tornamo-nos ansiosos e os valores e as crenças pessoais de cada um interferem decisivamente no comportamento adotado individualmente perante a questão.
Se por um lado a enfermagem tem através da prestação de seus cuidados a finalidade de contemplar os indivíduos com uma assistência holística em todo ciclo vital, por outro a literatura aponta que esta classe de profissionais ainda apresenta dificuldades em situações que envolvam a potencialidade, a iminência e a configuração de morte.
ELIAS (1999) afirmou que pouco se fala sobre morte porque ela é uma evidência de nosso limite, da nossa fragilidade enquanto condição humana. RIBEIRO et al. (1998) afirmam que a equipe de enfermagem sofre com tais situações, mas este sofrimento parece ser mascarado pelo cumprimento de rotinas.
O profissional de enfermagem é gente que cuida de gente, e como todo ser humano tem suas tristezas, irritações, receios, dentre outros sentimentos. Quando pensamos sobre esta problemática, supomos ser esta a primeira implicação para o enfermeiro com relação ao lidar com a sua clientela: o afastar de seus sentimentos e receios, de forma que aos isolar, minimize suas tensões para assegurar que as suas respostas individuais não prejudiquem o paciente que está sendo atendido. Tendo esta questão bem definida, é possível chegar ao doente, configurar diagnósticos, planejar sistematicamente a assistência e a partir daí, implementá-la, avaliá-la e modificá-la quando houver necessidade.
Dependendo do quadro clínico do paciente, uma das maiores preocupações e ansiedades é gerada pelo medo da morte, bem como de que a sua condição de saúde seja mais grave do que imagine. Na prestação da assistência é imprescindível informá-lo sobre tudo o que acontece, o porquê e a verdadeira razão do emprego de aparelhos e técnicas. É preciso transmitir-lhe segurança, carinho, conforto e apoio psicológico, pois o mesmo vaga em um ambiente desconhecido, num mundo de inquietação. Isto implica ao enfermeiro a capacidade de ouvir, entender, se ver no lugar do outro – o cliente, para então agir com respeito, conhecimento e eficácia. Desenvolver as habilidades de observação, avaliação e ação.
De acordo com RIBEIRO et al. (1998), “a enfermagem é geralmente a primeira a lidar e sentir a morte do paciente, já que estes se tornam dependentes de seus cuidados”.
O enfermeiro tem o dever ético de zelar pelo paciente, inclusive pelo seu corpo no pós-morte. Com relação ao gerenciamento, a idéia é reforçada com o relato de MAGALHÃES et al. (1995), que dizem ser o enfermeiro “o profissional responsável por prever e prover os recursos materiais e humanos necessários para o atendimento ao paciente que vai morrer”.
Quando ocorre morte da paciente, o seu corpo é submetido a um preparo. GONÇALVES (1997) afirma que quando isso ocorre, os profissionais de enfermagem tamponam, lavam o corpo, esparadrapam, identificam, cobrem, enrolam-no considerando tais atividades como uma rotina de serviço. A literatura aponta o preparo do corpo como uma mescla de um ritual com seguimento de uma rotina e rigor técnico, consensualizando a idéia de que este preparo segue a rotina estabelecida normalmente em função da cultura social e que esta atividade é realizada em sua totalidade pela equipe de enfermagem.
Sob esta ótica, pode-se compreender com exatidão a importância destes profissionais nesta fase da existência humana através de SANTOS (1996), ao afirmar consubstancialmente que a morte não é um acontecimento meramente biológico e sim um fenômeno social. Entender este fenômeno dentro desta perspectiva e espacialidade incute ao profissional de enfermagem, e em especial ao enfermeiro, o dever de compreendê-lo num sentido mais amplo, onde sua prática seja um reflexo de seu entendimento através de uma abordagem ética, psicológica, filosófica, histórica, religiosa, cultural e jurídica sobre o que se faz e seus resultados sobre os receptores deste fazer.
ASSISTÊNCIA PSICOLÓGICA À EQUIPE DE SAÚDE
Visando um trabalho multidisciplinar, em que a paciente deve ser vista globalmente, em seu momento histórico, dentro de um enfoque biopsicossosial, cabe ao psicólogo ser um agente facilitador nas relações entre a equipe de saúde, paciente e ente/família.
Os objetivos do psicólogo no trabalho com a equipe envolvem orientação quanto aos fatores de riscos psicológicos presentes no contexto, facilitando as inter-relações; planejar estratégias terapêuticas conjuntas, para melhor atingir os objetivos de assistência às pacientes e oferecer suporte psicológico aos membros da equipe quando estes necessitarem. A melhor compreensão dos sentimentos e pensamentos da equipe pode vir a influenciar positivamente na sua relação com as pacientes ou com outros membros do próprio grupo de trabalho.
Essas “conversas” com a equipe geralmente ocorrem sem data e horário prévios, sendo que acontecem mediante a necessidade de qualquer membro da equipe. Dentro de uma enfermaria de obstetrícia sempre há uma sala para reunião de equipe, espaço esse que muitas vezes é utilizado para realizar as anotações nos prontuários das pacientes, sendo um ótimo momento para troca de informações.
Além da sobrecarga vivida pelos profissionais de saúde no Brasil, faz-se necessário considerar o fato de que os mesmos estão expostos às ameaças que a situação de crise os impõe, pois não só o paciente e a família são vulneráveis à crise, mas os profissionais envolvidos também. É preciso ter em mente que por trás de cada profissional da equipe de saúde há um ser humano que também sente dor, que sofre assim como as outras partes envolvidas. Ambas ficam co-relacionadas a partir da crise instalada.
Mediante isso, equilíbrio emocional e uma boa interação na equipe são necessários para dar um atendimento adequado aos demais envolvidos até que os mesmos possam se reestruturar diante da fase crítica.
REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
ANGERAMI-CAMON, Valdemar A. A Psicologia Hospitalar: Teoria e Prática. 2 ed. São Paulo: Pioneira, 1995.
ANGERAMI-CAMON, Valdemar Augusto. E a psicologia entra no hospital. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2001.
Angerami-Camon, Valdemar Augusto. Urgências Psicológicas no Hospital. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.
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BAPTISTA, Makilim Nunes. Psicologia Hospitalar: Teoria, Aplicações e Casos Clínicos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.
BROMBERG, M.H.P.; KOVÁCS, M.J.; CARVALHO, M.M.M.J. Vida e morte: laços da existência. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1996.
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THUCHARÉ, Fernando A. R. Psicologia hospitalar: Teoria e prática. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Pensando na Morte

Pessoas que insistem em dizer que não pensam na morte, em geral têm uma relação sofrível com esse assunto, tão sofrível que nem se permitem pensar a respeito.


Aprender a aceitarnossa finitude é uma das missões do desenvolvimento da personalidade


A missão tradicional do médico é aliviar o sofrimento humano; se puder curar, cura; se não puder curar, alivia; se não puder aliviar, consola. Ao pensar na morte, seja a simples idéia da própria morte ou a expectativa mais do que certa de morrer um dia, seja a idéia estimulada pela morte de um ente querido ou mesmo de alguém desconhecido, o ser humano maduro normalmente é tomado por sentimentos e reflexões.
As pessoas que se regozijam em dizer que não pensam na morte, normalmente têm uma relação mais sofrível ainda com esse assunto, tão sofrível que nem se permitem pensar a respeito. Esses pensamentos, ou melhor, os sentimentos determinados por esses pensamentos variam muito entre as diferentes pessoas, também variam muito entre diferentes momentos de uma mesma pessoa. Podem ser sentimentos confusos e dolorosos, serenos e plácidos, raivosos e rancorosos, racionais e lógicos, e assim por diante. Enfim, são sentimentos das mais variadas tonalidades.
Isso tudo pode significar que a morte, em si, pode representar algo totalmente diferente entre as diferentes pessoas, e totalmente diferente em diferentes épocas da vida de uma mesma pessoa.


O Eu diante da Morte 
De um modo geral, descontando as defesas das reflexões zen, das meditações transcendentais e de toda sorte de subterfúgios do medo e do temor do nada, a idéia da morte nos remete aos sentimentos de perda, portanto, em tese, nos desperta sentimentos dolorosos. Trata-se de uma espécie de dor psíquica, a qual muitas vezes acaba também gerando dores físicas, ou criando uma dinâmica incompreensível para quem a vida continua sorrindo.
Poderíamos dizer que na Depressão, o tema morte está mais presente, seja o medo dela, seja a vontade de que ela aconteça casualmente ou, mais grave, sob a forma de ideação suicida. De qualquer forma, pensa-se na morte e, como não poderia deixar de ser, acompanha sentimentos dolorosos. Essa é uma dor psíquica, naturalmente movida por sentimentos de tristeza, de finitude, de medo, de abandono, de fragilidade e insegurança.
Na espécie humana a dor psíquica diante da morte pode ser considerada fisiológica, mas sua duração, intensidade e resolução vão depender, muito provavelmente, de como a pessoa experimentou a vida. Diz um ditado: “teme mais a morte quem mais temeu a vida”.
Durante a fase de enfrentamento da morte, o paciente é estimulado a profundas reflexões sobre a própria vida; se lhe foi satisfatória sua trajetória de vida, se houve algum desenvolvimento emocional, se pode criar vínculos afetivos fortes e permanentes, se ele pode auxiliar a outros seres humanos. Orientado psicologicamente (cognitivamente) poderá ser possível que, apesar de doloroso, esse momento possa ter um importante e saudável balanço emocional.

Os 5 Estágios da Perspectiva de Morte
A reação psíquica determinada pela experiência com a morte, ou mesmo diante de um diagnóstico médico associado com a perspectiva de vir a morres foi descrita porElisabeth Kubler-Ross como tendo cinco estágios (Berkowitz, 2001):
Primeiro Estágio: negação e isolamento A Negação e o Isolamento são mecanismos de defesas temporários do Ego contra a dor psíquica diante da morte. A intensidade e duração desses mecanismos de defesa dependem de como a própria pessoa que sofre e as outras pessoas ao seu redor são capazes de lidar com essa dor. Em geral, a Negação e o Isolamento não persistem por muito tempo.
Segundo Estágio: raiva Por causa da raiva, que surge devido à impossibilidade do Ego manter a Negação e o Isolamento, os relacionamentos se tornam problemáticos e todo o ambiente é hostilizado pela revolta de quem sabe que vai morrer. Junto com a raiva, também surgem sentimentos de revolta, inveja e ressentimento.
Nessa fase, a dor psíquica do enfrentamento da morte se manifesta por atitudes agressivas e de revolta; - porque comigo? A revolta pode assumir proporções quase paranóides; “com tanta gente ruim pra morrer porque eu, eu que sempre fiz o bem, sempre trabalhei e fui honesto”...
Transformar a dor psíquica em agressão é, mais ou menos, o que acontece em crianças com depressão. É importante, nesse estágio, haver compreensão dos demais sobre a angústia transformada em raiva na pessoa que sente interrompidas suas atividades de vida pela doença ou pela morte.
Terceiro Estágio: barganha Havendo deixado de lado a Negação e o Isolamento, “percebendo” que a raiva também não resolveu, a pessoa entra no terceiro estágio; a barganha. A maioria dessas barganhas é feita com Deus e, normalmente, mantidas em segredo.
Como dificilmente a pessoa tem alguma coisa a oferecer a Deus, além de sua vida, e como Este parece estar tomando-a, quer a pessoa queira ou não, as barganhas assumem mais as características de súplicas.
A pessoa implora que Deus aceite sua “oferta” em troca da vida, como por exemplo, sua promessa de uma vida dedicada à igreja, aos pobres, à caridade ... Na realidade, a barganha é uma tentativa de adiamento. Nessa fase o paciente se mantém sereno, reflexivo e dócil (não se pode barganhar com Deus, ao mesmo tempo em que se hostiliza pessoas).
Quarto Estágio: depressão A Depressão aparece quando o paciente toma consciência de sua debilidade física, quando já não consegue negar suas condições de doente, quando as perspectivas da morte são claramente sentidas. Evidentemente, trata-se de uma atitude evolutiva; negar não adiantou, agredir e se revoltar também não, fazer barganhas não resolveu. Surge então um sentimento de grande perda. É o sofrimento e a dor psíquica de quem percebe a realidade nua e crua, como ela é realmente, é a consciência plena de que nascemos e morremos sozinhos. Aqui a depressão assume um quadro clínico mais típico e característico; desânimo, desinteresse, apatia, tristeza, choro, etc.
Quinto Estágio: aceitação
Nesse estágio o paciente já não experimenta o desespero e nem nega sua realidade. Esse é um momento de repouso e serenidade antes da longa viagem.
É claro que interessa, à psiquiatria e à medicina melhorar a qualidade da morte (como sempre tentou fazer em relação à qualidade da vida), que o paciente alcance esse estágio de aceitação em paz, com dignidade e bem estar emocional. Assim ocorrendo, o processo até a morte pôde ser experimentado em clima de serenidade por parte do paciente e, pelo lado dos que ficam, de conforto, compreensão e colaboração para com o paciente.

A Medicina Paliativa 
O termo "paliativo" tem uma conotação leiga pejorativa que não corresponde, absolutamento, à verdade. Paliativo é a qualidade de aliviar, e é o que mais interessa à pessoa que sofre, portanto, quando se fala Medicina Paliativa não se pretende, de forma alguma, atribuir um sentido pejorativo, minimizado ou frugal ao termo. Devemos ter cuidado quando alguém diz... “esse medicamento é APENAS um paliativo”, com intenção clara em atribuir alguma conotação pejorativa.
No Brasil a Medicina Paliativa ainda caminha a passos lentos mas, no Reino Unido, onde tudo começou, somando-se com a Austrália, USA e Canadá, existem mais de 6.000 centros de Medicina Paliativa, sendo considerada uma especialidade médica e de grande notoriedade.

No Brasil, a atuação da Medicina Paliativa, iniciada em 1983 pela Dra. Míriam Marteleteno Hospital das Clinicas de Porto Alegre, é ainda praticamente desconhecida pelos médicos brasileiros. Os Cuidados Paliativos são tipos especiais de cuidados destinados a proporcionar bem estar, conforto e suporte aos pacientes e seus familiares nas fases finais de uma enfermidade terminal.
Assim, a Medicina Paliativa procura conseguir que os pacientes desfrutem os dias que lhes restam de forma mais consciente possível, livres da dor e com seus sintomas sob controle. Isso tudo é pretendido para que esses pacientes possam viver seus últimos dias com dignidade, em sua casa ou em algum lugar mais parecido possível, rodeados de pessoas que lhes queiram bem. Na realidade, esse tipo de cuidado pode ser realizado em qualquer local onde o paciente se encontra, seja em sua casa, no hospital, em asilos ou instituições semelhantes, etc.
Cuidado Paliativo é uma atenção médica e multiprofissional aos pacientes cuja doença não responde aos tratamentos curativos. Para a Medicina Paliativa é primordial o controle da dor, de outros sintomas igualmente sofríveis e, até, dos problemas sociais, psicológicos e espirituais. Os Cuidados Paliativos são interdisciplinares e se ocupam do paciente, da família e do entorno social do paciente.
Os Cuidados Paliativos não prolongam a vida, nem tampouco aceleram a morte. Eles somente tentam estar presentes e oferecer conhecimentos médicos e psicológicos suficientes para o suporte físico, emocional e espiritual durante a fase terminal e de agonia do paciente, bem como melhorar a maneira de sua família e amigos lidarem com essa questão.
Essa área médica objetiva o alívio, a preparação e, conseqüentemente a melhoria das condições de vida dos pacientes com doenças progressivas e irreversíveis como, por exemplo, crônico-degenerativas, incapacitantes e fatais. Atualmente diz respeito mais aos pacientes com câncer, AIDS, pneumopatias, degenerações neuromotoras, doenças metabólicas, congênitas, Doença de Alzeheimer, Doença de Parkinson, etc, bem como os politraumatizados com lesões irreversíveis.
Uma das maiores dificuldades para a Medicina Paliativa ter desenvoltura próxima à de outras especialidades, pode ser o preconceito universal existente em relação às condutas terminais, mais precisamente, em relação à morte.

A Qualidade da Vida e da Morte 
Na formação do médico, bem como na formação das especialidades, a morte costuma ser abolida do rol de preocupações clínicas. Dificilmente os médicos perguntam, na anamnese, se o paciente tem medo de morrer, pensa em morrer, pensa em suicídio, ou coisas assim. Aliás, nem sequer é perguntado se o paciente está triste, nem sequer como ele ESTÁ... E isso se deve, provavelmente, à total falta de conhecimento sobre o que fazer com a resposta do paciente.
Quanto mais avança o conhecimento médico em todos os campos (farmacologia; terapêutica, anestesia, cirurgia, transplantes de órgãos, fertilização humana, genética, imunologia, medicina nuclear, recursos diagnósticos, etc...), quanto mais se desenvolvem tecnologias aplicadas à medicina, mais o médico se distancia da morte.
Os protocolos de procedimentos médicos, as normas administrativas da medicina e os rígidos manuais de conduta acabaram por institucionalizar a morte. É comum vermos em livros-texto uma perfeita descrição de determinado quadro clínico, reconhecidamente irreversível e com desfecho fatal, mas nada se fala dos cuidados finais, da atenção familiar e afetiva que o paciente deveria receber nesse momento. Não, fala-se muito em deixá-lo nos centros de terapia intensiva.
É objetivo da Medicina Paliativa é a preocupação com a desinstitucionalização da morte, dando ao paciente a possibilidade de escolher permanecer em casa durante sua agonia. A discussão que pretendemos alimentar é, sobretudo, um protesto contra as condições de vida impostas pela medicina moderna aos doentes terminais, subtraindo deles as opções de um morrer menos sofrível.
Pensamos que, intervir no paciente terminal em centros de terapia intensiva, quando não objetiva exclusivamente minimizar sofrimentos, pode refletir sentimento de onipotência da medicina sobre a vida, sobre a vida física, como se ela fosse considerada o bem supremo e absoluto, acima da liberdade e da dignidade.
O amor pela vida, quando a toma como um fim em si mesma, se transforma em um culto pela vida. A medicina que se preocupa insensivelmente com as “condições vitais”, deixando de lado as “qualidades vitais”, promove implicitamente esse culto idólatra à vida.
Nessas circunstâncias a medicina interfere na fase terminal como se travasse uma luta a todo custo contra a morte e não, como seria preferível, numa luta em defesa do paciente. A maneira de morrer, portanto, não pode ser excluída, absolutamente, do projeto de vida da pessoa. A maneira de morrer também é uma forma de humanizar a vida no seu ocaso, devolvendo-lhe a dignidade perdida.

O Paciente Terminal 
O grande desenvolvimento da Medicina nas últimas décadas do século XX, assim como as melhorias inegáveis nas condições de vida, elevaram a expectativa de vida de 34 anos, no começo do século XX, até quase 80 anos no começo do século XXI.
Conseqüente ao aumento da perspectiva de vida e ao envelhecimento progressivo das populações, nas últimas décadas está havendo um aumento gradual na prevalência de algumas doenças crônicas e invalidantes.
Os avanços conseguidos no tratamento específico do câncer têm permitido um aumento significativo da sobrevivência e da qualidade de vida desses pacientes. Mesmo assim, estima-se atualmente que 25% das mortes sejam devidas ao câncer.
Por outro lado, sem nenhuma relação com o envelhecimento da população, a AIDS grassou tenazmente em nossa sociedade, demandando fortes medidas sanitárias. Aqui também, apesar dos avanços nessa área, continua grande o número anual de pacientes terminais produzidos por essa doença.
O estado mórbido que chamamos de Doença Terminal se caracteriza por algumas situações clínicas precisamente definidas, as quais se podem relacionar da seguinte forma:
1. Presencia de uma doença em fase avançada, progressiva e incurável.
2. Falta de possibilidades razoáveis de resposta ao tratamento específico.
3. Presença de numerosos problemas ou sintomas intensos, múltiplos, multifatoriais e alternantes.
4. Grande impacto emocional (no paciente e familiares) relacionado à presença ou possibilidade incontestável da morte.
5. Prognóstico de vida inferior a 6 meses.

Os Pacientes Terminais apresentam peculiaridades próprias que o profissional médico deve conhecer. O controle dos sintomas do estado terminal deve ser abordado não só do ponto de vista farmacológico, senão também, do ponto de vista psicológico, social, familiar, espiritual, etc.
Nesses pacientes os sintomas costumam ser devidos a diversos fatores. Podem ser decorrentes da própria doença que levou ao estado terminal, podem ser devidos aos tratamentos médicos fortemente agressivos à saúde, da debilidade física geral ou de causas totalmente alheias à doença grave, entre elas, do estado emocional do paciente.
Seja qual for a origem dos sintomas e do quadro geral que o paciente apresenta, é necessário explicar, da melhor forma possível, sobre o que está ocorrendo e sobre as possíveis questões que possam estar preocupando. Também a família deve estar sempre bem informada, especialmente quando os cuidados estiverem a cargo dela (Sánchez, 2000).

A Família na visão Paliativa 
De modo geral, exceto as infelizes exceções, o familiar representa mais do que a simples presença de alguém promovendo cuidados ao paciente. O familiar representa alguém que, independente das possibilidades terapêuticas, pode compreender e realizar com carinho difíceis tarefas como, por exemplo, dar banho, às vezes no leito, dar a medicação nas doses e horários certos, preparar e dar uma alimentação adequada, fazer curativos, etc.
É claro que os profissionais contratados para essas tarefas poderão fazê-las melhor, tecnicamente, mas importa muito a maneira e o carinho com que são realizadas. Havendo a qualidade afetiva dos cuidados, outros cuidadores, além da família podem ser envolvidos no Tratamento Paliativo.
Um dos propósitos da Medicina Paliativa é orientar a família para que ela seja um bom suporte de auxílio ao paciente terminal, priorizando sempre as condições necessárias para manter o paciente em casa onde, seguramente, terá uma qualidade de vida melhor. Em casa ele estará cercado de carinho e atenção, o que pode minimizar o seu medo de morrer.
Para a desejável participação familiar plena devem ser identificados, dentro da dinâmica familiar, os eventuais pontos de conflitos, anteriores e posteriores ao diagnóstico da doença.
Antigamente o paciente em fase terminal morria em sua própria casa, lentamente, onde tinha tempo para despedir-se e passar seus últimos momentos com seus familiares. Nossa cultura científica e objetiva por excelência, muitas vezes acaba por deixar pessoas morrerem sozinhas, na assepsia fria dos hospitais e experimentando, como último sentimento, um dos medos mais primitivos do ser humano: a solidão.
Com o desenvolvimento científico morrer tornou-se solitário e desumano. Geralmente o doente, cognominado Doente 620-C ou doente do Box 3-B, é confinado ao seu leito onde aguarda a morte chegar, estando as pessoas seriamente preocupadas com o funcionamento de seus pulmões, secreções, pressão venosa central, traçado eletrocardiográfico, etc.
Diante do paciente terminal, quando a medicina já sabe que a doença venceu a guerra, não cabe mais ao médico a tentativa de cura, muitas vezes extremamente sofrível e estéril, mas assistir, servir, confortar e cuidar. Se pretendermos ajudar alguém nessa fase, seja terapeuticamente, medicamente ou humanamente, deveremos nos informar e nos preparar para lidar com a morte.

Mas sempre tem alguém que já sabe sobre a morte, não precisa saber mais nada, como é comum dizerem sobre qualquer tema da psicologia e da psiquiatria. Ora, todos também sabemos correr. O problema é que, se não treinarmos e aperfeiçoarmos a arte de correr, jamais faremos alguma coisa meritosa com nossa maneira, digamos, “natural” de correr. Portanto, vamos falar da morte para ajudar pessoas que morrem...
Segundo o paradigma cartesiano, segundo ainda os dicionários objetivos, a morte se constitui o oposto da vida. Por isso, torna-se um fenômeno aterrorizante, repulsivo e desconhecido para nossa espécie, que exulta instintivamente a vida. Dor e medo são os sentimentos básicos predominantes nesta relação com a morte.
Mas a morte é um processo biológico natural e necessário. Falar que a morte é o contrário da vida não é correto. A morte é uma condição indispensável à sobrevivência da espécie e, através dela a vida se alimenta e se renova. Desta maneira a morte não seria a negação da vida e sim um artifício da natureza para tornar possível a manutenção da vida.
A sociedade ocidental, basicamente, rejeita a morte procurando constantemente vencê-la e para isso se baseia no seu desenvolvimento científico. A tentativa de vencer ou, no mínimo, contornar a morte é pretendida com certo sucesso pela medicina moderna.
Tomando por base a aspiração natural do ser humano para a vida, considerando ainda que o maior desejo do ser humano é a imortalidade, na maioria das vezes a morte é considerada uma inimiga.
O sonho da permanência eterna ou, no mínimo, muitíssima prolongada, ganhou um importante aliado com os avanços da medicina, com o aumento da expectativa de vida, com a possibilidade de haver cura para todas as doenças, mesmo o câncer ou a Aids.
Enfim, a ciência médica com seus progressos para a melhoria da vida, com seus avanços científico-tecnológicos, com a indiscutível eficiência dos diagnósticos, dos medicamentos, das técnicas cirúrgicas, etc, não tem tido tempo de falar da morte. Não a ciência médica, mas os médicos, embevecidos pelo sucesso na promoção da vida, acabam achando um despropósito dedicar-se a cuidar da morte, único evento decididamente atrelado à vida.
Não se sabe bem porque mas, apesar do sucesso da ciência em prolongar a vida útil do ser humano, em manter jovem por mais tempo as pessoas, em atrasar o envelhecimento, em fazer viver mais de 100 anos, enfim, apesar de todos esses fatores de valorização da vida e da conquista da beleza e jovialidade duradouras, a idéia da morte continua assombrando ainda mais.
Poderíamos perguntar, hipoteticamente, ao ser humano: - “depois de todas essas conquistas da ciência para aumentar o tempo e a qualidade da existência humana, você está satisfeito?” Certamente a resposta é não. E é graças a esse inconformismo com a finitude que o ser humano promove, cada vez mais, sua permanência entre os vivos. Talvez todo esse avanço tenha servido para estimular maior apego ainda à vida.
Enfim, tudo o que possa lembrar a morte, seja a doença grave, a velhice, a decrepitude e até a própria idade é escamoteado. Para a ocultação ser completa, o próprio doente que vai morrer, morre no hospital, longe dos olhos (e do coração). Também os rituais de luto são cada vez mais rápidos e pragmáticos, digamos, mais empresariais e mais clean.
Como se não bastasse o verdadeiro pânico do ser humano diante da morte, ainda somos educados com a personificação da morte representada por um esqueleto coberto com uma capa preta e carregando uma foice afiada na mão, pronta para degolar quem quer que se aproxime. Dificilmente as pessoas entenderão que a morte possa apenas representar uma vida que chegou naturalmente ao fim, uma existência que simplesmente expirou.
A duração máxima da vida humana atualmente é de, aproximadamente, 120 anos. Alguns centros científicos dedicados à pesquisa da longevidade trabalham com uma expectativa de levar a vida humana até os 400 anos.
Hoje se acredita que o processo de envelhecimento, que culmina com a morte, não se dá aleatoriamente, simplesmente como conseqüência natural da degeneração, mas como um processo ativo e geneticamente programado. Este programa estaria impresso nos cromossomos, ou seja, nossas células se regenerariam um número geneticamente definido de vezes, depois do qual morreriam.

O que Podemos Fazer

A dificuldade do ser humano em geral e, particularmente, do profissional de saúde em lidar com a morte pode ser trabalhada e melhorada, com isso, pode melhorar qualidade de vida de todos envolvidos na questão; do próprio paciente, dos familiares, do médico e de toda equipe.
Inicialmente, é claro, o maior investimento deve ser dirigido ao paciente, deve pretender melhorar o conforto e a qualidade de vida de quem agoniza mas, em seguida, como “a morte é para quem fica”, os familiares e os próprios profissionais envolvidos com o morrer cotidiano, devem ser acudidos.
O ser humano, normalmente, recebe alguma preparação antes mesmo de vir ao mundo; o bebê, de uma forma ou de outra, uns mais outros menos, tem sua chegada preparada. Aí então, a criança é preparada para ficar maiorzinha, para entrar na pré-escola, para entrar na escola. Preparam-se, uns mais outros menos, para a adolescência e, na família ou fora dela, para ser jovem, depois adulto. O adulto é preparado, pela própria vida, uns mais outros menos, para a velhice. Mas, raramente alguém é preparado para a morte.
Por isso, primeiramente, o profissional de saúde deve preparar-se para lidar com a morte ele próprio, quando esta pode ser uma ocorrência comum no ambiente de trabalho. Além disso, para poder ajudar os outros, deverá conhecer e estudar a Tanatologia; conhecer a reação psicológica da perda de algo (pessoa, situação etc.), saber identificar o luto normal e o patológico e entender como crianças, adolescentes, adultos e velhos reagem à morte e às perdas da vida.
Notamos a falta de preparo das equipes de saúde quando existe, no ambiente hospitalar, um temor pela morte como se tratasse de um forte potencial de “contágio”. Esse aspecto temerário e despreparado explica a solidão e a frieza das unidades de terapia intensiva, onde, muitas vezes, os doentes terminais morrem sem a chance de dizer uma última palavra aos que amam e sem estes lhes ofereçam qualquer conforto emocional.
Para a formação do médico uteísta, preocupa-se muito em treiná-lo para passar um intracat, a interpretar uma gasometria, um eletrocardiograma ou um exame de fundo-de-olho. Estes são, sem dúvida, requisitos indispensáveis para salvar vidas. Mas, quando tudo isso não for suficiente e o paciente insiste em não reagir, o médico versado nas urgências e emergências não costuma saber mais o que fazer; não sabe segurar a mão agonizante, falar palavras de apoio, conforto e carinho.
É claro que, sendo assim, morrer no hospital é muito mais sofrível, dá muito medo. A quase ausência total de auxílio emocional (espiritual) para aqueles que vão morrer não pode ser justificado pelo apego acadêmico à ciência, pois o cuidado afetivo e espiritual é um direito essencial de todo ser humano. Não é, de forma alguma incompatível, que se ensine técnicas da medicina moderna aos jovens médicos que se formam, simultaneamente aos preceitos milenares do humanismo caridoso e fraterno.
para referir:
Ballone GJ - Lidando com a Morte - in. PsiqWeb, Internet, disponível emwww.psiqweb.med.br, revisto em 2005

A Comunicação e Regstro em Enfermagem - por Lílian Lúcia, Jéssica Cristina e Priscila Helena (Noturno)


            Existe uma enorme importância na comunicação e adequação dos registros de enfermagem para o profissional da área, que muitas vezes não são mensurados, este assunto faz muita diferença na rotina de trabalho do profissional, em especial aos profissionais da enfermagem. A comunicação e o registro são muito importante em vários aspecto, para melhoria do contato com o cliente, melhor qualidade do serviço da equipe com a equipe, melhor participação e atenção dos membros da equipe e a comunicação não verbal tem um papel muito significativo na enfermagem.
            Para se estabelecer o cuidado de enfermagem que visa uma assistência de qualidade, deve-se saber a importância da comunicação. Dessa forma a comunicação colabora para a promoção do cuidado emocional. Devemos refletir sobre as interfaces do cuidado emocional ao cliente hospitalizado, vislumbrando a melhoria da qualidade da assistência de enfermagem. Para prestarmos o cuidado emocional é necessário sermos bons ouvintes, expressar um olhar atencioso e tocar os nossos clientes, confortando e recuperando sua autoestima. Tratando-se do relacionamento entre a equipe de enfermagem e o paciente, o processo de comunicação precisa ser eficiente para viabilizar uma assistência humanística e personalizada de acordo com suas necessidades. Portanto, o processo de interação com o paciente se caracteriza não só por uma relação de poder em que este é submetido aos cuidados da enfermagem, mas também por atitudes de sensibilidade, aceitação e empatia entre ambos.
            A comunicação se dá de duas formas específicas: a comunicação verbal e a não verbal,onde esta tem um papel de grande importância sob a ótica da enfermagem, pois através dela é que muitas vezes interpretamos o paciente sem se quer necessitar de uma só palavra, dessa forma poderemos intervir mais rápido para solucionar o seu problema. É indispensável para a equipe de enfermagem, um maior contato com seu o paciente, independente do tipo de comunicação que ele exerça. Simples gestos significam muito para pessoas que em um determinado momento não conseguem dizer claramente aquilo que desejam..
            A comunicação entre os profissionais também tem grande importância, sendo  demasiada necessária aos profissionais de enfermagem, os quais devem estar atentos aos conteúdos informativos e resultados do processo comunicativo. Deve ser vista como uma importante ação de enfermagem. Alguma atitudes desses profissionais deve ser indispensável nesse processo como: deve ocorrer em local específico; ser rica fonte de informação; ocorrer na presença de pelo menos dois membros integrantes das equipes.
            A falta de comunicação da equipe pode acarretar várias consequências como: informações fragmentadas; plano de cuidados fragmentos; consequência na qualidade da assistência; desvalorização do intercâmbio pessoa a pessoa; não há ênfase no cuidado humano. Contudo de uma boa comunicação contribuição pode ajudar em diversos fatores como: refletir sobre a prática da enfermagem; mostrar a importância da comunicação e passagem de plantão; implementação de um instrumento de registro: plano de passagem de plantão; participação e atenção dos membros da equipe.
            A partir do que foi exporto podemos concluir que o cuidado emocional do paciente  se faz de suma importância para a melhoria da qualidade de vida. Percebemos que a comunicação é um dos mais importantes aspectos do cuidado de enfermagem que
proporciona uma melhor assistência ao paciente. A comunicação é algo essencial para se estabelecer uma relação entre profissional, paciente e a família. Refletiu-se também sobre a importância da comunicação não verbal e comunicação entre os profissionais de enfermagem.
                                                                                                 (Brasília, Novembro de 2012)    

domingo, 18 de novembro de 2012

Olá a todos!  Gostaria de disponibilizar  o livro que já é um clássico sobre o processo de enfrentamento da morte e as mudanças na vida psicológica do doentes terminais. É só clicar no link abaixo. Discutirmos esse tema na próxima aula!

Sobre a Morte e o Morrer de Elizabeth Klubber-ross

Sugiro também essa linda materia de Eliana Brum sobre os sentimentos evocados por pacientes terminais.

Matéria de Eliana Brum

Abç a todos!

domingo, 11 de novembro de 2012

Resenha do Filme Freud Além da Alma por Karine Gonçalves e Kamila Maria (mat.)


O filme Freud Além da Alma aborda a vida do “pai da psicanálise” Sigmund Freud. Trata do momento em que ele se graduou no curso de medicina, no qual fugia um pouco dos padrões da época: ele se interessava em entender os pacientes com histeria, que eram considerados pacientes que fingiam seus sintomas. O diretor do hospital tinha a mente totalmente fechada em relação a isso, achava que era a histeria fosse frescura, que esses pacientes queriam fugir das suas responsabilidades.
Era uma época em que a medicina era baseada somente pelo que podia ser visto e medido. Sendo assim, a questão psicológica não era considerada. O que importava era a anatomia e a fisiologia. Nesse contexto, a mente era uma caixa preta que ninguém poderia mexer.
Então, inconformado, Freud decidi ir para Paris, a fim de estudar a teoria do Dr. Charcot. Lá ele descobre que histeria era uma doença real que tinha origem psicológica. Ao defender esse ponto de vista para a sociedade médica de Viena, Freud foi vítima de chacotas. A maioria dos médicos achava suas teorias um absurdo, pois tudo teria que ser provado cientificamente. Na ocasião Freud também defendeu seus pontos de vista sobre a existência do inconsciente.
Freud utilizava a hipnose com frequência, mas, ao longo do tempo pôde perceber que ela não trazia a tão sonhada cura, apenas ajudava a entender os problemas, as origem dos traumas e fazia com que os pacientes se lembrassem de acontecimentos antigos.
Breuer era um dos poucos que apoiavam Freud, e eles descobriram que a mente não se dividia como dizia a teoria de Charcot, o trauma era tirado da parte consciente e ficava nas lembranças inconscientes,mas isso trazia conseqüências físicas.
Freud, fazendo sua autoanálise, através de sonhos, lembranças e também pela colaboração de uma paciente, descobriu o complexo de Édipo, que é o desejo incestuoso do menino pela mãe e da menina pelo pai. Ele afirmava que as crianças possuíam sim sexualidade, ele foi muito criticado, e nisso, nem Breuer apoiava.
Cecily, a referida paciente, não andava nem enxergava e, por meio de sessões de hipnoses, Freud pode perceber a origens de seu trauma: Cecily quando criança amava o pai e odiava a mãe, então tinha reprimido esse desejo.  
Freud aboliu a hipnose e percebeu que mesmo a paciente estando consciente poderia trazer lembranças através de associações, ou seja chega-se ao inconsciente mesmo a paciente estando em estado consciente. Cecily até inventa que foi molestada pelo pai.
Ele também através de sonhos, lembranças pode perceber que na infância sentia ciúmes do pai e queria a mãe perto dele, isso mexeu muito com seus sentimentos, fez com que se sentisse culpado como se desonrasse o próprio pai.Isso fez com que desistisse das suas teorias e de pesquisar mais a respeito disso.
Sua esposa percebeu sua tristeza e mostrou o que ele havia escrito anos atrás: "O progresso é como andar, consegue-se perdendo e ganhando equilíbrio. É uma série de erros... De erro em erro acaba-se descobrindo a verdade". (Freud). Nesse momento ele recordou que tinha escrito também “O falso é as vezes a verdade de cabeça para baixo”
Então quando a moça disse que sofreu estupro pelo pai, a verdade é que ela que o desejava e essa fantasia trouxe conseqüências para sua fase adulta, ele modificou sua teoria dizendo que a criança tem instintos sexuais desde o nascimento e que encontra satisfação sugando o leite materno.
Se até hoje a teoria de sexualidade infantil causa certa polemica, imagine isso na década de 20. Em palestra no conselho de neurologia e psiquiatria Freud expôs sua teoria, começa falando que a criança não tem consciência da sua sexualidade, mas inicia com a fase oral ,depois anal, fálica e genital.Os médicos dão risada,criticam e a maioria se retira do local.
Freud além de ser genial, demonstrou muita coragem ,marcou uma época e é a principal referencia da psicanálise,ele mostrou como nossa mente pode controlar nossas vidas.

Resenha do Filme Laranja Mecânica por Camila Nágila, Tânia e Lizangêla (mat)


        O diretor Stanley Kubrick retrata um mundo futurista, onde uma gangue aterroriza a sociedade, com vandalismo, brigas com outras gangues, estupro e outros crimes.O líder da gangue (Alex) é preso, e através de um programa de condicionamento, volta às ruas modificado. Quando pensa ou tenta algum ato violento, o seu organismo reage com crises de pânico, vômito, tontura. Esse condicionamento foi realizado através de sugestões visuais, onde ele assistia a cenas de violência sem sequer poder piscar os olhos, que se mantinham abertos à força, sendo molhados com colírio.Em seu retorno à sociedade, ele encontra todas as suas vítimas, que se vingam dele, que não consegue reagir por causa do seu condicionamento. É espancado por um de seus ex-colegas que se tornou policial e, em seu caminho, cruza com um senhor que ficou paralítico e que teve a esposa estuprada e morta ao serem agredidos por ele. Esse senhor o reconhece somente quando ele está na banheira e canta uma música, a mesma que ele cantou quando o estava agredindo. Como as outras vítimas, vinga-se, mandando um emprega do agredi-lo. Depois de passar por todos os percalços, Alex volta ao seu estado normal através de uma cirurgia no cérebro, pelas mãos de um congressista que quer utilizá-lo como vítima do sistema para sua campanha eleitoral. Tem então, “lindas visões”, recheadas de violência e morte. 
        O que o filme transmite é a incapacidade do Estado de compreender os criminosos, no caso, as gangues de adolescentes que, por puro prazer, destroem, roubam, estupram e matam. O maior exemplo dessa incompreensão é o fato de Alex, o adolescente protagonista, cometer altos crimes e, simultaneamente, amar a música clássica de Beethoven e ler a Bíblia.  De fato, o Estado e talvez o próprio ser humano, não compreendem a verdadeira natureza dos homens e sequer as consequências das suas próprias decisões. Até mesmo nós estamos amarrados em camisas de força, nossos olhos estão abertos sem possibilidade de fechar os mesmos e ainda somos obrigados a fazer o que o sistema nos impõe. A cada dia nosso direito de escolha, de contestação e nossa capacidade de despreendimento e raciocínio crítico nos são tirados.A violência não será curada por lavagem cerebral. Não adianta tranformar criminosos em "laranjas mecânicas", como máquinas, tirando-lhes o direito de escolha. A técnica ('Ludovico') usada no jovem Alex é a pura síntese do Totalitarismo e de como esse tipo de governo não se importa com a liberdade de expressões e ideias. O tratamento de usar imagens de ultraviolência para curar a violência do indivíduo é totalmente contraditório, algo inadmissível para o personagem principal, Alex. O Mal está em todos nós, inclusive naqueles que pretendem acabar com ele.
            No referido filme temos um excelente exemplo de como utilizar certos conhecimentos da Psicologia para o exercício do controle social. O controle do comportamento social é feito através da técnica Ludovico(recuperação de prisioneiros que garante a liberdade imediata) que, com princípios psicológicos behavioristas de condicionamento, introduz em Alex o mal-estar físico ligado a qualquer comportamento violento. Como no conceito adotado pelo filósofo Skiner, adepto do beharviorismo, Alex, personagem principal do filme, vincula o seu sofrimento físico a atos de violência introduzidos através do vídeo que ele assistiu exaustivamente, sem ao menos poder fechar os olhos. Esse tipo de condicionamento, ou técnica beharviorista, relacionando um efeito (seu mal-estar) a uma causa, violência, se faz presente,através da teoria comportamental ou seja seu comportamento é moldado, com os propósitos de outros. Com isso, nota-se no filme diferentes vertentes das possibilidades dos seres humanos, sobre seu diferentes, comportamentos e estilos.