quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Comentários Sobre a Situação II - por Juliana de Sousa Muniz (mat.)


A relação mãe e filho começam muito antes do nascimento, da primeira vez que a mãe pega a criança no colo e amamenta. Essa interação vem desde o inicio, quando a mãe descobre a gravidez. A partir dessa descoberta a mulher já inicia – ou, pelo menos, deveria iniciar - a criação um laço materno. Ela sabe que a partir daquele momento há uma responsabilidade tanto internamente, quanto externamente, e que a criança irá precisar de muito amor, carinho e principalmente cuidado.
Com o nascimento, esses sentimentos tendem a de intensificar, a relação que antes ocorria de forma mais indireta/abstrata, passa a ser vivenciada 24 horas por dia. A família é a base da criança, onde, de um modo geral, ela adquire os primeiros conhecimentos, valores éticos e morais, e o pai e mãe são os primeiros educadores, professores, amigos e médicos.
De certa forma, o filho vê os pais como um porto seguro, sendo, de um modo geral, totalmente dependentes dos mesmos. Diante disso, podemos imaginar quando filhos sofrem a perda dos pais ou vice versa. Perder alguém amada é como se uma parte de você mesmo estivesse sendo arrancada a força, indo embora junto com a perda, por algum tempo a pessoa fica sem chão, sem rumo, literalmente desorientada.
Uma perda desta natureza foi o que ocorreu com Letícia, uma menina de 9 anos, que após sofrer um acidente de carro, perdeu toda sua família que a acompanhava e ainda entra em coma. Após duas semanas, Letícia acorda do coma, e o que era pra ser um momento de comemoração, alegria, se torna um momento de tensão. Cabe à enfermeira Rosa informar ou omitir da menina a morte dos pais e irmão.
            Em situações como essa, uma mistura de sentimentos toma conta do momento, a insegurança da menina, luto, solidão, perda, o “psicológico”, entre outros sentimentos de desamparo e todos esses aspectos acabam dificultando a decisão da enfermeira, que tem que agir com cautela, pois, dependendo da postura adotada por ela, pode ver piorar ainda mais a recuperação da menina.
Se já é difícil lidar com criança quando ela vive fazendo perguntas, imagina agora, em que ela ao mesmo tempo é tão pequena, tão frágil, e ainda assim tem que adotar uma postura mais “adulta”. O fato, é que a decisão da enfermeira em contar ou não para a menina é algo que passa dos limites da racionalidade e invade o lado emocional. Não é fácil, nem para quem irá receber a notícia e nem para quem irá dar a notícia. Nesse momento todo cuidado é necessário, o momento de falar, modo de falar, são imprescindíveis.
Apesar de saber que as perguntas da menina serão frequentes até ela obter as devidas respostas, o melhor a se fazer nesse caso é contatar um outro parente da menina, nesse caso a avó, conversar sobre o caso, procurar saber mais sobre a vida da menina, para poder saber quais as possíveis reações que ela poderá ter. Também é importante escutar o que o parente acha da situação, respeitar as vontades deste, mas, isso não quer dizer que estas vontades devam ser atendidas prontamente: o foco e preocupação é a menina, então, acredito que juntos, enfermeira e parente dever chegar a um consenso do que é melhor para a criança no momento.
Enfim, é importante lembrar que o momento mais difícil já passou que foi o acidente e a menina ter conseguindo sair com vida. Esses dois fatores devem ser levados em consideração na hora em que for falar com ela e, ao invés de dar a notícia de uma forma que a criança se sinta mal depois, mostre a ela que “as coisas não são nem boas nem ruins. Elas são o que são. Tudo depende da forma que a gente as encara”...
É certo que é complicado fazer uma criança de apenas nove anos entender isso, mas, dependendo da forma como você encara a situação, pode ajudar a criança a tornar esse momento menos doloroso.

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