quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Comentários Sobre a Situação III - Por Vera Maria Alves (Mat.)


     O caso da enfermeira Mara é muito complexo. Lidar com pessoas é complicado e lidar com sentimentos é muito mais. O caso de Elisa, uma jovem de 24 anos, solteira, estudante de direito, que acabara de dar à luz é delicado, pois não se trata de uma doença que possa ser diagnosticada através de exames laboratoriais, mas depende basicamente dos sinais e sintomas que a paciente apresenta, de como ela se manifesta ao longo do tempo e de sua intensidade.
     O nascimento de um filho é um momento único, de extrema felicidade, principalmente para a mãe, a qual conviveu durante nove meses, com algumas dores durante a gestação e uma das dores mais insuportáveis que é a “dor do parto”, mas, nada disto faz com que supere a expectativa da chegada do tão esperado bebê, isto para a maioria das mães.
     Não foi assim com o nascimento de Fábio, talvez pelo fato de Eliza ser solteira. Na verdade não é relatado à presença do companheiro e pai da criança, o que sugere que talvez ele não tenha dado a devida assistência, o apoio ou mesmo que não via com bons olhos a gravidez. Talvez, com isso, Elisa tenha se sentido sozinha, frustrada, sem rumo. Além disso, é necessário considerar as alterações hormonais, que podem ter mexido com ela, aumentando o stress ao longo da gestação, contribuindo para o aparecimento do problema.
     É normal a puérpera ficar irritada, se sentindo cansada ou triste, o que pode ter sido desencadeado até em função da privação do sono, pelo fato do bebê acordar muitas vezes à noite, o que acaba passando após algum tempo, sem deixar vestígios, mas se os sintomas forem se instalando cada vez mais ao longo de várias semanas e ficando piores a cada dia, ela pode estar desenvolvendo um quadro de depressão pós-parto.
     Lidar com paciente depressivo não é uma tarefa fácil, exige muita paciência, dedicação, profissionalismo e, acima de tudo, o entendimento de que não é apenas um corpo doente, mas uma pessoa, que merece respeito, carinho, compreendendo que é um ser que está em um momento delicado, na maioria das vezes não entende o que está ocorrendo, se nega a cooperar, imagina não ter mais solução e que todos estão contra ele.
     Neste momento, o profissional tem que intervir, com medicações, acompanhamento psicológico, psiquiátrico e muita dedicação da equipe de enfermagem, para o bom andamento e evolução do tratamento.
     Num passado não muito distante, os sinais e sintomas da depressão não eram valorizados, ninguém se falava em depressão pós-parto. Os transtornos de humor eram considerados características próprias femininas, isto quando não eram consideradas loucas ou possessas por demônios. Sem diagnóstico nem tratamento adequado, ou a doença se resolvia sozinha, ou tornava-se crônica, sendo muitas vezes abandonadas em manicômios.
     Atualmente, essa visão tem mudado bastante, quase em sua totalidade, as pessoas passaram a entender que não é “frescura” de mulher, mas uma doença que surgiu independente de sua vontade e que seu tratamento e cura não dependem só dela querer, mas precisa de ajuda e intervenção medicamentosa, muita compreensão e paciência.  
     Eu, como profissional da saúde e enfermeira, orientaria e incentivaria a amamentação, primeiro pelo fato do leite materno conter uma rica fonte de anticorpos também denominados imunoglobulinas da classe IgA, que o bebê ao ingerir o leite materno esses anticorpos irão protegê-lo contra infecções, pois seu sistema imune ainda não é capaz de exercer sua função sozinho ainda.
     Como a Elisa se recusa a amamentar, tentaria explicar a ela quais os benefícios nutricionais e transmissão de anticorpos que traria à criança que ficaria mais protegida contra doenças; a outra orientação/tentativa, seria a aproximação mãe-filho, para estimular a aceitação de Elisa pelo seu filho Fábio, que poderia ocorrer apenas pelo fato do contato direto em estar amamentando seu bebê. Também chamaria a família, para dar apoio à Elisa, mostrando a ela que não precisa ficar angustiada, com medo, pois estarão sempre ao seu lado para apoiá-la em tudo que ela precisar.
     Em resumo, devemos apoiar/atender o paciente independente de sua condição, seja ele dependente ou não, ouvindo suas queixas e angústias sem pré julgamento, pois se optamos por esta profissão, devemos exercê-la com dedicação, atenção, procurando sempre a perfeição, para que nosso objetivo, que é a cura da doença, seja alcançado.



   

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