O
caso da enfermeira Mara é muito complexo. Lidar com pessoas é complicado e lidar
com sentimentos é muito mais. O caso de Elisa, uma jovem de 24 anos, solteira,
estudante de direito, que acabara de dar à luz é delicado, pois não se trata de uma doença que possa ser diagnosticada
através de exames laboratoriais, mas depende basicamente dos sinais e sintomas
que a paciente apresenta, de como ela se manifesta ao longo do tempo e de sua
intensidade.
O
nascimento de um filho é um momento único, de extrema felicidade,
principalmente para a mãe, a qual conviveu durante nove meses, com algumas
dores durante a gestação e uma das dores mais insuportáveis que é a “dor do
parto”, mas, nada disto faz com que supere a expectativa da chegada do tão
esperado bebê, isto para a maioria das mães.
Não
foi assim com o nascimento de Fábio, talvez pelo fato de Eliza ser solteira. Na
verdade não é relatado à presença do companheiro e pai da criança, o que sugere
que talvez ele não tenha dado a devida assistência, o apoio ou mesmo que não
via com bons olhos a gravidez. Talvez, com isso, Elisa tenha se sentido sozinha,
frustrada, sem rumo. Além disso, é necessário considerar as alterações
hormonais, que podem ter mexido com ela, aumentando o stress ao longo da
gestação, contribuindo para o aparecimento do problema.
É normal a puérpera ficar irritada, se
sentindo cansada ou triste, o que pode ter sido desencadeado até em função da
privação do sono, pelo fato do bebê acordar muitas vezes à noite, o que
acaba passando após algum tempo, sem deixar vestígios, mas se os sintomas forem se instalando cada vez mais ao longo de várias
semanas e ficando piores a cada dia, ela pode estar desenvolvendo um quadro de
depressão pós-parto.
Lidar com paciente depressivo
não é uma tarefa fácil, exige muita paciência, dedicação, profissionalismo e,
acima de tudo, o entendimento de que não é apenas um corpo doente, mas uma
pessoa, que merece respeito, carinho, compreendendo que é um ser que está em um
momento delicado, na maioria das vezes não entende o que está ocorrendo, se
nega a cooperar, imagina não ter mais solução e que todos estão contra ele.
Neste momento, o profissional tem que
intervir, com medicações, acompanhamento psicológico, psiquiátrico e muita
dedicação da equipe de enfermagem, para o bom andamento e evolução do
tratamento.
Num
passado não muito distante, os sinais e sintomas da depressão não eram
valorizados, ninguém se falava em depressão pós-parto. Os transtornos de humor
eram considerados características próprias femininas, isto quando não eram
consideradas loucas ou possessas por demônios. Sem diagnóstico nem tratamento
adequado, ou a doença se resolvia sozinha, ou tornava-se crônica, sendo muitas
vezes abandonadas em manicômios.
Atualmente, essa visão tem mudado
bastante, quase em sua totalidade, as pessoas passaram a entender que não é
“frescura” de mulher, mas uma doença que surgiu independente de sua vontade e
que seu tratamento e cura não dependem só dela querer, mas precisa de ajuda e
intervenção medicamentosa, muita compreensão e paciência.
Eu,
como profissional da saúde e enfermeira, orientaria e incentivaria a
amamentação, primeiro pelo fato do leite materno conter uma rica fonte de
anticorpos também denominados imunoglobulinas da classe IgA, que o bebê ao ingerir
o leite materno esses anticorpos irão protegê-lo contra infecções, pois seu
sistema imune ainda não é capaz de exercer sua função sozinho ainda.
Como a Elisa se recusa a amamentar,
tentaria explicar a ela quais os benefícios nutricionais e transmissão de
anticorpos que traria à criança que ficaria mais protegida contra doenças; a outra orientação/tentativa, seria a
aproximação mãe-filho, para estimular a aceitação de Elisa pelo seu filho
Fábio, que poderia ocorrer apenas pelo fato do contato direto em estar
amamentando seu bebê. Também chamaria a família, para dar apoio à Elisa,
mostrando a ela que não precisa ficar angustiada, com medo, pois estarão sempre
ao seu lado para apoiá-la em tudo que ela precisar.
Em resumo, devemos apoiar/atender o paciente independente de sua condição, seja
ele dependente ou não, ouvindo suas queixas e angústias sem pré julgamento,
pois se optamos por esta profissão, devemos exercê-la com dedicação, atenção,
procurando sempre a perfeição, para que nosso objetivo, que é a cura da doença,
seja alcançado.
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