segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Resenha do Filme Laranja Mecânica (por Mireille Pereira dos Passos - Terceiro período Not.)


     O filme Laranja Mecânica narra a história de Alexander DeLarge (Malcolm McDowell), um jovem delinquente e antissocial, que ama a violência e a música clássica - especialmente Beethoven. Ela se passa na Inglaterra, num futuro próximo, numa data não bem determinada, onde Alex é o líder de uma gangue que comete crimes perversos por diversão. Ele e sua turma passam o seus dias usando drogas, enfrentando outras gangues, roubando casas, cometendo estupros, batendo em mendigos sem qualquer razão aparente.
Em uma de suas ações, durante um assalto violento, Alex é preso em flagrante e é sentenciado a 14 anos de prisão. Porém, na cadeia, pouco tempo depois de começar a cumprir sua sentença, ele descobre que há um novo método, ainda em teste, para eliminar intenções criminosas e sentimentos ruins de pessoas violentas como ele.  Em teses, esse tratamento o tornaria criminosos irrecuperáveis como Alex incapazes de qualquer ato de violência, mesmo que em defesa própria. Alex então se vê atraído pela proposta de ser libertado antes do cumprimento total de sua pena. Ela terá, como única condição, o dever de se submeter a essa terapia experimental, desenvolvida pelo governo que deseja controlar o comportamento de seus cidadãos. Alex se candidata a ser cobaia desta nova experiência e, assim, começa sua jornada psicológica.
Começaram as sessões de “tratamento”: Alex é então forçado, durante dias e dias seguidos, a ver de modo torturante infindáveis cenas reais de violência. Ele não pode desviar o olhar, seus olhos são mantidos abertos por um equipamento enquanto um médico coloca colírio em seus olhos e lhe aplica um remédio que lhe faz sentir enjoos e pavor. Alex se contorce de dor e vomita durante as sessões, enquanto visualiza cenas de violência sem poder desviar seu olhar. O objetivo deste tratamento é o de extinguir, a partir da exposição forçada à estímulos aversivos, todos os comportamentos agressivos do rapaz. Busca-se condicionar o rapaz como um rato de laboratório. Em resumo: Alex foi “condicionado”, passando a associar o trauma do experimento às imagens da violência a que fora exposto.
Encerrado o torturante tratamento, Alex, diagnosticado como “curado de seu amor pela violência” sendo solto novamente às ruas. Os jornais de todo o país noticiaram o sucesso de seu tratamento. Entretanto, depois de conquistar sua tão sonhada liberdade, Alex não custou a perceber que a sociedade não estava pronta para receber um “assassino curado” de volta às ruas. 
Em minha opinião, algumas das principais questões que o filme levanta são: 1) A sociedade é capaz de perdoar criminosos e aceitá-los de volta ao convívio? 2) Ao repreender de um modo tão violento um assassino que cumpriu sua pena, não estará a sociedade se tornando tão violenta quanto o criminoso? 3) Se o governo for capaz de criar, com base em experimentos psicológicos,  uma forma eficaz de reeducar assassinos, estupradores, bandidos e criminosos em geral, será que seríamos capazes de aceitá-los de volta? 4) Temos o direito de submeter seres-humanos à métodos experimentais de alteração de comportamento?
Entendo que a crença de que existe justiça em infringir sofrimento a um criminoso - achando que esse sofrimento trará satisfação à sociedade ou às vítimas, ou que corrigirá os seus erros - não é um caminho válido. Acredito na ideia do perdão. O perdão para mim, pressupõe a atitude de “não vingança”. A atitude de não retribuir o mal cometido é necessária para que o perdão seja visto como a possibilidade de um novo começo, de um novo caminho a ser traçado para além do erro/falha cometido. O perdão verdadeiro é um pressuposto para que a pessoa se sinta digna diante de Deus, pois o amor de Deus é maior do que seu erro. Por pior que seja a atitude que tenha tido, Deus ainda o ama, porque ele é Seu filho. E isso não vai mudar!
Então, é preciso acolher um criminoso com toda a bondade, delicadeza, mas com firmeza. A bondade não significa nunca frouxidão, mas a firmeza e crença na dignidade humana. Ninguém deveria perder o direito a ser tratado com dignidade  porque cometeu um erro. Toda pessoa deve continuar a ser tratada com a dignidade que sua condição de ser humano requer.
Muitas vezes, na nossa sociedade, os que erram, são considerados “bodes expiatórios”, são tratados com toda a crueldade. É como se o erro de alguém justificasse a tortura, a ‘justiça com as próprias mãos’, a pena de morte. É importante lembrar, que vivemos em uma sociedade desigual, em que um senador que comete algum crime tem foro privilegiado enquanto um morador de rua, que quebra, danifica, ou roubar alguma coisa para comer é considerado um criminoso e todos acham que podem queimá-lo, matá-lo, enfim, destruí-lo.
Acredito que é preciso manter a dignidade humana, pois as pessoas precisam acreditar que são capazes de superar os seus erros, porque Deus nos ama, esse amor sempre é maior. É importante, por isso, aprender a tratar os erros e os crimes alheios, não de uma maneira mórbida e cruel, mas de modo construir formas novas de viver. Formas que ofereçam ao criminoso uma possibilidade de não repetir os seus erros.
Enfim, Laranja Mecânica é um filme brilhante, que vale a pena ser visto. Devemos refletir sobre os temas abordados. Sem falar que a atuação de Malcolm McDowell é perfeita. Não poderia deixar de citar que a linguagem esquisita que Alex e sua turma usam no filme, foi criada por Anthony Burgess, o autor do romance que deu origem ao filme, e é uma mistura de inglês, russo e gírias. O filme é originalidade do início ao fim, em todos os detalhes. 

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