segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Situações I, II e III

Situação 1 - O enfermeiro João prestava serviços na unidade de politrauma do Pronto Socorro de movimentado de um hospital público. Era quase meia noite e João, que tivera um dia pesado, já estava muito cansado. De repente, a unidade móvel chegou trazendo um jovem de 22 anos (Carlos) com muitos ferimentos e uma grave hemorragia. De longe, João ouviu os gritos de Carlos, ouviu-o dizendo que desejava morrer, que não queria que os médicos da unidade o salvassem - “Se vocês me salvarem, eu me jogarei de novo!”- Carlos gritava enquanto retirava à força a seringa com a sedação. Ao chegar mais perto para ajudar seus colegas João descobriu que Carlos acabara de tentar suicídio. Ele se jogara na frente de um carro em movimento. João ouviu a enfermeira Teresa comentando que esta já devia ser a quinta vez que Carlos aparecia naquela unidade em dois anos. Ela sabia apenas que Carlos era um estudante universitário e que ele passou a apresentar comportamentos suicidas depois da morte de sua mãe. Por um momento, João se percebeu sentindo muita raiva de Carlos, pois ele pensou que poderia estar usando o seu precioso tempo ajudando algum outro paciente que desejasse viver e que estivesse lutando pela vida. João sentiu vergonha de si mesmo por sentir raiva e refletiu se era normal pensar assim.
Situação 2 - Em função das férias da enfermeira responsável, a enfermeira Rosa assumiu o controle da enfermaria pediátrica de um hospital importante. Era uma tranquila manhã de domingo e tudo parecia estar sobre controle. Pelo meio da manhã, Rosa recebeu a notícia que uma das pacientes, Letícia, uma menina de 9 anos, que estava inconsciente há duas semanas, começara a dar sinais de que acordaria até o final do dia. Por ser nova naquela enfermaria, Rosa ainda sabia muito pouco sobre o caso de Letícia. Sabia apenas que ela entrara em coma depois que o carro onde estava capotou várias vezes num grave acidente na estrada. Rosa então decidiu ligar para a família de Letícia para dar a boa notícia. Para o seu estarrecimento, ela foi informada pela avó da menina que ambos os pais e o irmão mais novo da menina haviam perdido a vida no momento acidente. Letícia era a única sobrevivente de um acidente trágico. Rosa ficou petrificada e se perguntou como agiria quando Letícia acordasse. E quando ela perguntasse pelos seus pais? Rosa temeu pela saúde de Letícia, achando que a reação emocional da menina ao saber da perda dos pais podia ser muito prejudicial. Ela ponderou se devia ou não omitir esse fato para resguardar a saúde da menina.
Situação 3 - A enfermeira Mara trabalhava numa maternidade há 2 anos. Um das funções que Mara mais apreciava no seu trabalho era ajudar as mães e os pais inexperientes nos primeiros passos com o bebê. Mara também gostava de ensinar mães de primeira viagem a amamentar. Ela sentia que esse era um trabalho simples, mas muito importante. Num dia comum, Mara foi designada para acompanhar Elisa, uma jovem de 24, estudante de Direito, solteira, que dera à luz na noite anterior Fábio, um bebê saudável e nascido a termo. Ao chegar ao quarto, Mara percebeu que Fábio está chorando muito alto no “moisés” e que não havia, como era de se esperar, familiares ou acompanhantes lá dentro. Tudo está escuro e Mara fica impressionada ao perceber que Elisa também não está no seu leito como deveria estar. Mara ouviu um choro forte vindo do banheiro, abriu a porta e encontrou Elisa encolhida, sentada no chão do box. Mara perguntou se estava tudo bem e Elisa não respondeu, apenas chorou. Mara então tirou Eliza do box e tentou conversar, mas a moça se negou e continuou em chorando silêncio, olhando para o vazio, como se não houvesse ninguém ali com ela. Nas duas próximas semanas Eliza se negou a comer, a tomar banho e mesmo a amamentar, o lhe rendeu uma mastite aguda. O setor de psiquiatria foi acionado e Eliza foi para a internação psiquiátrica, onde ficou por algumas semanas. Depois dessa experiência marcante, Mara passou a se questionar porque, enquanto para muitas mulheres, o nascimento de um filho é um momento feliz, para outras pode representar um momento triste e difícil.

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